Quem tem problemas de coluna pode fazer exercícios de impacto, como correr?

Blog UOL Paola Machado – Texto Rodrigo Andrade (Escoliose Brasil – Grupo REAB)

Paola Machado

30/11/2018 04h00

Durante muito tempo, as atividades físicas de grande impacto –como a corrida e modalidades que envolvem saltos — eram consideradas vilãs de quem sofre de dores nas costas e/ou tem problemas na coluna vertebral.

Muitos profissionais da saúde contraindicavam esse tipo de exercício para seus pacientes e, com isso, essas práticas se tornaram uma grande preocupação para essa população.

Mas a relação entre impacto e problemas de coluna realmente existe?

Até então, não havia evidências científicas de que os discos intervertebrais (amortecedores da nossa coluna vertebral) poderiam sofrer mudanças decorrentes de exercícios como a corrida.

Um estudo publicado recentemente na Nature, uma das mais importantes revistas científicas mundiais, analisou desde sedentários até corredores acostumados a fazer mais de 50 km semanais. Ao todo, participaram da pesquisa 79 pessoas com idade entre 25 e 35 anos, para reduzir a interferência de efeitos normais do envelhecimento nos achados.

Resultado: tanto homens quanto mulheres que realizaram a atividade física de impacto apresentaram uma melhor composição e hidratação dos discos intervertebrais quando comparados aos sedentários.

Essa descoberta é surpreendente e representa, de fato, a primeira evidência em humanos de que a corrida pode ser benéfica para os discos intervertebrais, oferecendo então o suporte que faltava para conhecimento de que protocolos específicos de exercícios de impacto podem ajudar os pacientes com problemas de coluna –desde que com indicação e orientação médica.

O estudo da Nature Journal traz alguns indicativos extremamente relevantes:

  • O efeito da corrida também está presente nos níveis vertebrais lombares mais baixos;
  • O impacto da corrida no disco é mais forte no núcleo (parte interna);
  • Os corredores apresentaram melhor hidratação do que os indivíduos sedentários.
  • Há evidências de hipertrofia (aumento) dos discos intervertebrais nos corredores de longa distância.

Faça exercícios para envelhecer bem

A descoberta de que atividades físicas de impacto são benéficas para aumento da força e hidratação dos discos reforçam a importância do exercício para se ter melhor qualidade de vida na terceira idade, pois pode minimizar problemas que ocorrem com o envelhecimento.

Uma revisão sistemática de estudos publicada no Neuroradiology Journal observou que a prevalência de degeneração discal (desgaste) em indivíduos assintomáticos ocorre em 37% das pessoas com 20 anos e em 96% das com 80 anos. A prevalência de protrusão de disco (estágio inicial de hérnia de disco) é de 29% aos 20 anos e de 43% aos 80. Já a prevalência de fissura anular (lesão do disco intervertebral) é de 19% aos 20 anos e 29% aos 80.

No entanto, vale ressaltar que a degeneração da coluna está presente em altas proporções em indivíduos assintomáticos, ou seja, sem dores na coluna vertebral. Muitas características degenerativas baseadas em exames de imagens são provavelmente parte do envelhecimento normal e não estão associadas diretamente com as dores da coluna vertebral. Portanto, exames de imagens devem ser interpretados no contexto da condição clínica de cada paciente.

Se você quer proteger a saúde da sua coluna e não corre, fica aqui o convite: que tal começar agora mesmo? Só faça isso de forma gradual e converse com seu médico e treinador de confiança antes, ok?

*Colaboração de Rodrigo Andrade, fisioterapeuta clínico, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) e docente da PUC-SP (Crefito 3: 112922-F)

Referências:
– Belavý DL, Quittner MJ, Ridgers N, Ling Y, Connell D, Rantalainen T. Running exercise strengthens the intervertebral disc. Nature. 2017.
– W. Brinjikji, P.H. Luetmer, B. Comstock, B.W. Bresnahan, L.E. Chen, R.A. Deyo, S. Halabi, J.A. Turner, A.L. Avins, K. James, J.T. Wald, D.F. Kallmes, and J.G. Jarvik. Systematic Literature Review of Imaging Features of Spinal Degeneration in Asymptomatic Populations. J Neuroradiol. 2015 April ; 36(4): 811–816.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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